|
SIMONE BACELAR
( BRASIL - BAHIA )
Simone Bacelar é poeta, jornalista e doutora em
Ciências da Comunicação.
Trabalhou em rádio, jornal e no serviço público.
Nasceu e vive em Salvador, Bahia, onde criou o
projeto LêPoesia. O idioma das sombras é seu
livro de estréia.
 |
BACELAR, Simone. O idioma das sombras. São Paulo,
Cobalto, 2025. 146 p. ISBN 978-65-85570-26-8
Exemplar da biblioteca de Salomão Sousa.
A POESIA E A VOZ DOS INAUDÍVEIS
o grito dos solitários
o soluço antigo das pedras esquecidas
e o lume que acende a sombra dos ossários.
Um espelho que reflete as profundezas do ser
e um refúgio para os desgarrados da realidade.
Um lamento silencioso das sombras
um murmúrio de verdades nunca ditas.
Assim como o corvo de Poe, a poesia espreita,
no limiar entre a realidade e o sonho,
uma musa misteriosa que seduz e assombra
e me leva a lugares que só os loucos conhecem.
AQUI ME ENCONTRO
inequívoca e descontente.
Ninguém por um fio,
morro todo dia
de idade avançada.
Impura, profana.
A certeza, única
afinal,
sou incompletamente finita.
UM INTENSO VENDAVAL DURANTE
toda a tarde enroscou-se nos
telhados antes de explodir em raios, chuva,
muita chuva, trovões e medo.
Eu fixei versos de concreto e de cristal onde existiam
gritos e feridas ocultas e membros
— os meus também — expostos.
Com cautela, observando os telhados e a paisagem
destruída, ouvi morrer a expressão de um poeta e
transformar-se em outra, que
já não para nós, a voz.
Os oprimidos permaneceram alheios e serenos, os
opressores conversam tranquilamente ao telefone, o
rancor é polido,, eu própria julgo já não discernir de
quem é a culpa.
Escreva, digo a mim mesma, repudia aqueles
que docemente conduzem ao vazio os homens e
mulheres que se unem a ti e pensam não saber.
Escreva o seu nome também entre os dos
adversários. O vendaval sumiu. A natureza é
demasiadamente forte para reproduzir os embates. A
poesia não altera nada. Nada é certo,
mas, algo me diz: escreva.
*
VEJA e LEIA outros poetas da BAHIA em nosso Portal:
https://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/bahia/bahia.html
Página publicada em dezembro de 2025.
|